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Mostrando postagens de 2011

Você

Meu coração vai correr quando te ver. A festa vai parar, a música ficar em slow motion e eu vou fazer cara de boba e sorrir depois. Os rostos suados das pessoas nem ligarão, mas uma alma vai dizer "eu já sabia". E eu vou ficar sem graça pelo resto da noite, sem saber sequer como me mover, imaginando que você irá interpretar cada ação, cada reação. Mas você me conforta com seus lábios se desprendendo e cortando a face, como se usasse uma lâmina de plumas coloridas. E o meu riso encontra seus olhos, que encontram meus cabelos, que encontram suas mãos, que encontram meus lábios que tocam os se- Acordo.

E agora, desamar?

                Ela nem sabia por que todo mundo chamava assim. Era uma palavra engraçada e curta: amor. Que com um sotaque interiorano ficava ainda mais divertida de ouvir. Mas saber o que é? Também não. Era coisa pra gente grande. Até que um dia nem quis mais descobrir. E não quis mesmo.                 Coração de gelo. Amava com outros nomes, amava sem nome, amava desconhecendo, amava de olhos fechados. Mas nunca era amor. Que amor de verdade ou tem final feliz ou alguém morre - como em filme de drama. Nem nunca seria.                 Até o dia que conheceu alguém louco pra amar. E quis amar. E quiseram se amar. E não podiam. Trairiam. Pra não trair, não se amaram. E viveram os dois sem nunca saber o que é o tal amor.

Adeus - Série Ironias

Ironia é a gaita soar para alguém que já não pode mais ouvir. O dia ainda não tinha mostrado seu sol; o que raiava agora era a melancolia de uma noite em claro; Nos ouvidos, a melodia triste de uma música escoteira de despedida que a gaita chorava. As noites nunca mais seriam as mesmas.                   Perdoe-me se a carta parece molhada. É que meus olhos ardem com a ideia de uma última imagem. Desculpa também se me demoro. Meus braços estão cansados de ir ao rosto enxugar a chuva incansável que lava a alma. Que caiu na noite certa. Chuva que, pra mim, era o choro dos anjos chorando no rosto errado. Esse era o meu.                 Eu não queria dizer adeus e por isso inventei que aquele abraço não seria o último. Dizem que o primeiro passo pra uma mentira se tornar fato é a fé do contador. E eu quis acreditar. E acreditei por aqueles que não tiveram um último abraço.                 Ele não se rendeu aos feitiços sedutores do sono, porque ele foi seduzido antes pelos enca

Condolência - Série Ironias

Ela caminhava olhando para a flor – quase roubada se o canteiro não fosse domínio público, que flor ganhada não haveria de ser. Amada ela não era, apesar de amar muitos. Ainda que amasse muitos, a flor destinatário também não tinha. Flor que foi arrancada com certa frieza e indiferença, como se fosse pra ser dissecada. E lembrou que fora chamada de fria um dia desses. Riu-se pra dentro. Olhou blasé para o nada e abaixou a mão e a flor. Descia as escadas com a mesma indiferença de dissecar flores. Parecia ser tão comum.   A indiferença, ela, o dia, a flor, comuns como Silvas . Por um minuto não pensou nada. Depois pensou que nunca aprendera balé ou jazz. Lembrou que preferia ficar em casa lendo. E lia sobre psicologia desde os nove, quando a mãe deixava os ensaios sobre Freud na mesa de centro. Foi assim que conheceu o mundo.                 Vagaram os olhos novamente pela flor. Amarela. Lembrou da mãe. Amarelo era a cor favorita dela. Mas há muito também não lembrava da mãe. Pens

Taxicronista

            Se você quer ser um cronista de mão cheia, vire taxista. Se trinta minutos num táxi rendem cinco crônicas, duas músicas, três matérias na VEJA e um livro de piadas, imagine o acervo de quem comanda o volante de um desses amarelinhos todos os dias.             Certa noite de novembro, precisei utilizar o serviço de um jovem taxista. No caminho para o aeroporto, curiosa, quis saber a aventura mais exótica pela qual o moço tinha passado em seus quatro anos de profissão. Ele se riu e sem demora começou a narrar:                 Em uma noite dessas, me chamaram pelo rádio. Era uma corrida de um motel. La fui eu, já imaginando... Motel, vou pegar um casal e tudo bem. Quando eu cheguei lá, era um cara feio pra burro! E a menina era maravilhosa – cara de revista. Aí o rapaz chegou pra mim e disse que a corrida era pra Rocinha. Eu já tinha aceitado, mas, pra me assegurar, perguntei a rua. Quando ele me disse o nome da rua eu até respirei fundo. Disse pra ele: - Olha, ami

Até o céu é hipócrita - Série Ironias

Ironia é ver um carro funerário na porta de uma maternidade. Desempacotavam, ainda no porta-malas, quatro caixões alvos. Alvos como a cabeça grisalha do doutor,  densas como a dor infinita nas lágrimas da mãe de primeira viagem. E pensar que um dia foram quatro alegrias. Pensar que seis meses e três semanas atrás eles eram a felicidade e esperança de um jovem casal prestes a realizar seu sonho. Prestes, e por muito pouco. Não é fácil aceitar que seis meses e três semanas sonhando com quatro moleques correndo pela casa foram em vão. Eles correriam pelo quintal, lavariam as mãos e entrariam pela porta da cozinha quando ela os chamasse para o almoço. Eles pediriam histórias todas as noites antes de dormir. Eles subiriam os quatro, de uma vez só, no colo do pai, enquanto ele cochilava na poltrona num dia de domingo. Eles iriam para a aula de futebol e balé toda quinta-feira à tarde. Eles esconderiam balas no travesseiro, caçariam formigas, se empurrariam no balanço d

Quereres.

Vou escrever até meus dedos racharem de dor. Quero parar de existir... só viver, daqui em diante. Quero parar de pensar, só agir. Seja instinto, seja impulso, seja doença. Quero me revolver em todos os lençóis disponíveis e me encasular, por bem, por mal. Quero que me vejam, mesmo estando eu não-aqui. Quero que me ensinem sem esforço, não quero mais apanhar de mim. Nem quero também ser capturada como fugitiva, já que outros bichos correm tanto quanto eu. E quem os deveria pegar se preocupa demais com um único serzinho pequeno o suficiente pra ser tropeçado sem ao menos sentirem, só porque este já tem coleira. Quero ser pega chorando ao menos uma vez sem que se importem com as razões. Quero alguém que não me pergunte porquês. Quero quem não me jogue fora quando não me quiser mais. Que se sinta preso a mim, pra um dia descobrir de novo o que foi que me prendeu a ele. Quero ter desde sempre pessoas que me escutem como tenho agora. Quero apagar o que fiz. O que nã

Último Ato

Façam a imagem na cabeça: era um palco montado no meio de um pátio grande. Tinham pilastras para sustentar o andar superior e estavam elas espalhadas. Um campo minado pelo escuro que assombrava as altas horas. O palco era iluminado pelos holofotes. Só por segurança. Público mesmo havia nenhum, que pudesse aplaudir. Porque havia sim a glamurosa mãe terra, as copas escuras e dançantes, as coreografadas correntes de vento que levavam as plumas do outono. E o frio. Não frio gelado do inverno. O frio de deitar cabeça no peito dele . Frio de coberta, frio de vinho. Frio só de casaco pra alguns. Pra ele também. Chegou no palco e escorou a mochila no pé, antes de subir. O ar veio suave, entrou por seu peito, gelou suas veias, roubou dele um pouco do calor, e saiu, levando consigo todas as impurezas do dia ruim. As ondas escuras que compunham o cabelo serviam pra esquentar as orelhas, ainda que na parte do alargador faltassem os cachos. Tirou fora o casaco porque dali à frente ele não seria n

Pra ser completo.

Então é isso. Cala a boca, você não tem mais direito de sonhar. Bota o pé no chão, garota, ninguém acredita em você. Você vai apodrecer dona de uma padaria suja numa esquina da capital onde nasceu. Você vai ser como a gente: vai parar de querer mudar o mundo, isso é coisa da idade... Você tinha era que aprender a sonhar um sonho que coubesse na cabeça deles. Ela fica chorando as lágrimas ignoradas até por ela mesma. Foi um dos momentos mais sombrios de todos os 17 anos e meio que ela viveu. Um frase que fez ela querer, pela primeira vez, se conformar em ter sido nascida e criada no meio de conformados seres humanos decadentes de esperança. Veio de um lugar onde ninguém questiona porque o mendigo dorme onde o seu carro estaciona, ou porque o menino de onze anos corre com uma bolsa alheia na mão. Vem de um lugar morto, preto e branco, quadrado. Se você é menina seu cabelo tem que ser liso e abaixo do ombro. Se é menino tem que cortar o cabelo que nem de homem. Tem que ir à missa domi

crônicas de um ônibus em movimento (crônica dos hífens).

E a incrível capacidade das pessoas de se tornarem melhores-amigas-de-infância em 15 minutos de conversa. Subi as escadas e me escorei em um daqueles apoios de metal do transporte coletivo. Estava tudo escuro lá fora, tudo azul escuro, meio cinza-cor-de-cidade-grande. Acho que a minha cara mostrava o domínio que o tédio teve sobre mim durante aqueles 45 minutos de viagem, em pé. Mas fomos animados eu, minha mochila estampada, uma prima, outro primo e meu irmão voltando do cinema para um falso-churrasco. Eu e minha animação ignorando todo mundo. Todo mundo, menos a conversa do motorista com a senhora quase-simpática. E quer saber? Não ignore as conversas de ônibus. Todo mundo precisa ter um motivo pra rir. -- Você tem filhos? -- Três! -- Sério? Leva isso aqui pra eles... -- estendendo mão com algumas balinhas. -- qual a idade deles? -- Um tem um e meio, outra tem três e o outro tem oito. (...) -- Eu perdi meu neto de 18 anos num acidente de carro. (...) -- Meu primo se envolveu

"Ô Caroline*, eu preciso te dizer..."

Vejamos... cartas são tão clichês!... Flores?... Não. Romântico demais. Fotos... ela já vai ganhar. Uma abraço é pouco e eu já dei. Ok. Eu não queria, mas pra ela eu só tenho as palavras. Que sejam dignas, pois. Aniversários são chatos; mas, confesso, uma ótima desculpa pra ter um dia que é só seu. Na minha opinião, para pessoas especiais todos os dias deveriam ser mais do que um dia comum. Todos os dias deveriam ser dias de risada sem fim, dias comemorados, dias de: "Hoje o dia é meu!". Todos os dias deveriam ser de abraços e mais abraços e sinceros desejos de felicidade. Sinceros. E eu, sinceramente, acredito ter feito dos teus dias dias de aniversário. Aqueles dos sorrisos, dos desejos de felicidade, dos longos e significativos abraços. E o que te faz especial pra mim é inexplicável. Sabe aquela coisa clichê de destino? Aquilo de carma ou coisa assim? Aquelas coisas que todo mundo tenta explicar mas ninguém consegue. O que mexe com o seu rosto quando você vê aquela pess

Frequência

Ela acorda a cada dia num compasso diferente. De vez em quando é um compasso simples, um quatro por quatro marcado, que só acompanha as seis cordas tão conhecidas. Esse é o dia que tudo tá tranqüilo, tudo tem o jeito Chico Buarque de falar. Tudo tem um “tudo bem” no final da frase. No dia seguinte ela aparece meio rock. Acorda com aquele fogo de querer fazer tudo agora, tudo, tudo. E pega pra fazer exercício de física, e ficar quieta não dá, e não tá com saco pra mimimi (...). Acorda quando o sol raia de novo com o pop romântico batido; a letra que te deixa vendo tudo de um jeito diferente. Enxerga flores brancas em todas as roupas e coraçõezinhos saindo das bocas alheias. Pra nas próximas vinte e quatro horas acordar um pouco Elvis, meio Marlyn. É o dia que todos os olhares são mais do que acasos, todos são profundos, todos são mal-intencionados; todos são de uma ambiguidade única, personalizada.  Pra levantar Cazuza no dia que segue. Revoltada com o mundo e cantando pra todo mundo o
Foi o seu jeito de olhar pra tudo e não prestar atenção em nada que me chamou a atenção. Aqueles brincos fluorescentes que contrastavam com o seu cabelo castanho escorrido, que caiu pelo ombro na primeira vez que você falou o meu nome, que saiu meio falho, gaguejado e assustado no medo de errar. Eu também reagi assim, gaguejado, falho e assustado por você ter falado o meu nome. Para provar o meu orgulho próprio, só um sorriso escondido no canto da boca. Queria saber onde eu moro. Quando eu falei ela não ficou surpresa... provavelmente já sabia, mas queria escutar a minha voz direcionada a ela. E essa foi a nossa primeira conversa. Pelo resto da tarde, trocamos poucas palavras ou sorrisos. Mas foram todos eles inteiramente nossos, atenciosos, carinhosos e claros. Saí de lá com cada um deles na cabeça. E assim acordei; com eles gravados como se fossem especialmente únicos, ou unicamente especiais. *** Já não sei mais como fingir um sorriso que não é meu pra você; e só tem dois dia

Sexta.

E lá ia ela com sua triste felicidade de sexta-feira à noite. Voltava ela pra casa correndo, com os saltos na mão direita enquanto com a esquerda tentava equilibrar na orelha o celular com um número discado; era o primeiro da agenda. Chamara Augusto e seu carro, que não a abandonaria no meio da R. Dom Quixote, no centro de uma metrópole qualquer, ao léu, sereno e garoa até, que ameaçava cair em minutos. Augusto chegara cinco minutos atrasado; atrás da garoa. A relaxava tanto que não fez questão de procurar uma marquise, um toldo, um ponto de ônibus, um teto. O que provocou que, antes de Augusto, três carros parassem em frente a ela pedindo pagar por hora de atenção, aos quais reagiu rude, com palavrões intermináveis e um gesto obsceno qualquer. Ao vê-la, o rosto reagiu com piedade, ódio, nojo, amor fraternal e todos os outros. Ela chorava disfarçadamente em baixo dos cabelos. Desceu do carro e foi  até ela, jurando pra si mesmo que na próxima sexta as coisas seriam diferentes.

Chá de Alface

É difícil ter insônia. Sempre tive vontade de escrever sobre isso. No final de 2009 eu escrevi uma música chamada Chá de Alface; que, pra quem gosta de interpretar, vai ser um prato e tanto. Mas qual o sentido do nome da música? Chá de Alface é um remédio natural pra dormir, segundo a minha avó (e a internet {: ). Bom, como segunda composição conhecida (a nível pessoal) e como sendo a primeira composição já com o nome Guardavento, essa música é realmente importante para mim/nós. Já foi dedicada em shows para a Raisa, granda amiga (e acredito que também fã) da banda, bem como para a Luisa (Rampa) e, com muito carinho, a todos que nos apoiaram desde o início. O resto é com vocês. Enjoy- Entrei no carro, as janelas embaçadas... Eu soluçava feito uma criança em birra, Deixei o frio do lado de fora; ninguém me ouvia. Joguei os meus sapatos, casaco encharcado. O chão frio esperava as gotas infinitas, Um banho quente e a cama me esperavam; preciso dormir. Em meus olhos vermelhos A

Orgulho (?)

Sim, sou orgulhosa demais pra dizer o que você acha que é verdade. E que realmente deve ser mesmo. É tenho sido tão ignorante que ando não acreditando em nada que eu mesma não tenha concluído; e ando duvidando até disso também. Aliás, tem tanto tempo que ignoro tudo e todos que tenho passado a ignorar a mim mesma. Depois que admiti uma (provável (ou não)) verdade, tenho observado o quanto é imbecil sentir seja lá o que for por você. E pior que isso, ter acreditado que sinto. Por que sou sim ignorante o suficiente pra não sentir. Aliás, sou ignorante a ponto de pensar que eu não sinto. É isso. Falando nisso, com sua licença, vou ignorar o resto dos meus pensamentos e parar de digitar bobagem. Eu amo você. Orgulhosa de mais pra te dizer que sim, humilde demais pra acreditar que você pode entender. E vou parar de escrever sobre isso - você definitivamente me faz mal.
Eu sempre pensei que quando eu não soubesse como chamar aquilo que eu sentia, eu poderia automaticamente chamar de amor; porque se ninguém até hoje nunca soube descrever, então eu nunca conseguiria identificar. Mas isso mudou de uns tempos pra cá, quando precisei tirar essa teoria do papel. Não vai mudar nada na sua vida se eu vier aqui e ficar escrevendo o texto da última novela de Gilberto Braga (nem da primeira, já que seria tudo a mesma coisa) . Porque pra mim é clichê. Tentar descrever o amor é clichê. Não conseguir descrever o amor é clichê. Escrever sobre não conseguir descrever o amor é clichê. Aliás, relacionado ao amor, a única coisa que não é clichê é ele mesmo. Ou ele até é, só que pra gente sempre parece novidade. Porque o amor, na verdade, não é nada. O amor é o seu botão interno de auto-destruição. Ele é a falta de sentimento, é o tédio, é a cabeça vazia. Ele é um bug. Tudo o que você não quer pra si, pode chamar de amor também. No final vai tudo pro mesmo lugar do seu

a verdade .

Devo avisar que o texto abaixo contêm termos inadequados para menores de 14 anos, ou os de qualquer idade que possuem pudor ou algum resto de puritanismo. (...) E sim, o mundo é um cabaré, um puteiro de verdades! Cada uma delas vem com seu salto 15 e meia arrastão, tentando te convencer a gastar seu resto de dignidade quando for pra cama com uma delas. E por incrível que pareça, a que te conquista já teve 178 nomes diferentes, um pra cada caso, um pra cada meia, um pra cada cafetão, um pra cada fio de cabelo deixado numa camisa qualquer que no dia seguinte a esposa achou. A que já foi comida por teu avô, por teu pai e até pelo seu melhor amigo, que te indicou porque essa é boa . A verdade que você pegou tem gosto do álcool bebido 4 horas antes de você chegar; tem gosto do que não te deixa pensar em outra coisa, ou comer outra delas. Aquela verdade agora é sua e qualquer outro que chegar perto de tomá-la pra si vira ameaça. E vira alvo, vira implicância, vira comida, vira-lata. Vo