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Mostrando postagens de novembro, 2011

Taxicronista

            Se você quer ser um cronista de mão cheia, vire taxista. Se trinta minutos num táxi rendem cinco crônicas, duas músicas, três matérias na VEJA e um livro de piadas, imagine o acervo de quem comanda o volante de um desses amarelinhos todos os dias.             Certa noite de novembro, precisei utilizar o serviço de um jovem taxista. No caminho para o aeroporto, curiosa, quis saber a aventura mais exótica pela qual o moço tinha passado em seus quatro anos de profissão. Ele se riu e sem demora começou a narrar:                 Em uma noite dessas, me chamaram pelo rádio. Era uma corrida de um motel. La fui eu, já imaginando... Motel, vou pegar um casal e tudo bem. Quando eu cheguei lá, era um cara feio pra burro! E a menina era maravilhosa – cara de revista. Aí o rapaz chegou pra mim e disse que a corrida era pra Rocinha. Eu já tinha aceitado, mas, pra me assegurar, perguntei a rua. Quando ele me disse o nome da rua eu até respirei fundo. Disse pra ele: - Olha, ami

Até o céu é hipócrita - Série Ironias

Ironia é ver um carro funerário na porta de uma maternidade. Desempacotavam, ainda no porta-malas, quatro caixões alvos. Alvos como a cabeça grisalha do doutor,  densas como a dor infinita nas lágrimas da mãe de primeira viagem. E pensar que um dia foram quatro alegrias. Pensar que seis meses e três semanas atrás eles eram a felicidade e esperança de um jovem casal prestes a realizar seu sonho. Prestes, e por muito pouco. Não é fácil aceitar que seis meses e três semanas sonhando com quatro moleques correndo pela casa foram em vão. Eles correriam pelo quintal, lavariam as mãos e entrariam pela porta da cozinha quando ela os chamasse para o almoço. Eles pediriam histórias todas as noites antes de dormir. Eles subiriam os quatro, de uma vez só, no colo do pai, enquanto ele cochilava na poltrona num dia de domingo. Eles iriam para a aula de futebol e balé toda quinta-feira à tarde. Eles esconderiam balas no travesseiro, caçariam formigas, se empurrariam no balanço d