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Mostrando postagens de julho, 2012

Inverno

A última folha seca que caiu da árvore magra não anunciava o fim do outono. Anunciava o caos. A menina meiga tinha as dores desaguadas numa paisagem antiquada beira-rio, onde a cachoeira afogava com força sobrenatural tudo aquilo que mudava o tom de voz da menina de trança dourada. Os óculos sempre lhe caíam à ponta do nariz, dando aos seus oito anos um toque engraçado de oitenta. Mas o toque lhe acompanhava a alma, inteligência de velho que tinha a menina. Um velho espírito, escondido entre as cores dos desenhos de giz de cera, de traços tão precisos, convergentes, coloridos. Sabia que um dia a queda d'água ia perder a força e deixar boiando todas as coisas que acinzentavam seus rabiscos. Cabeça de velho. É velho que sabe dessas coisas. Criança sabe só que a felicidade é pra sempre, que existem por aí cavaleiros valentes, que Papai Noel presenteia os bonzinhos e que estrela cadente traz o que a gente mais quer. É disso que criança entende. Mocinha de 8 anos não devia estar pen

O que muda é o selo

Não há nada novo não, já aviso. Essa é só mais uma das mesmas cartas, falando sobre as mesmas coisas, os mesmos quereres, prum mesmo destinatário. Se tu, meu bem, cansar de ouvir sobre essa mesma paixão, queime as páginas ou carimbe os envelopes pra que me devolvam essas palavras repetidas. Não que eu vá abri-los. Até eu cansei dessa ladainha. É que hoje tive espaço pra (re)pensar nos seus olhos. Que vêm com um sorriso que~ ai, me apaixonei de novo. E é isso todo dia. Hoje não é diferente de ontem. Digo, talvez quanto à esperança cada dia se torna mais um ladrilho na estrada. Um a mais na conta final. Um espaço que soma entre mim e a crença. Parece que hoje não é o dia dos fiéis. Mas aí me lembro do jeito que você me olha quando repito a canção. E, feito palhaço bobo que tira alegria de cão vira-lata, abro um sorriso daqueles de fotografia. Aí suspiro mais uma vez e repito pra mim que um dia vou poder te olhar como quem possui o que tanto lhe custou. E me volta à memória