Pular para o conteúdo principal

um conto qualquer.

Das minhas mãos, no box úmido, escorriam gotas e mais gotas, incontroláveis. E elas também não pareciam saber o que eu faria nesse momento tão delicado. Nem as gotas nem as minhas mãos, já leves (não pareciam mais carregar aquele peso, qualquer que ele fosse) que, subiram num instante aos meus cabelos molhados para tirá-los do rosto (trejeito meu, inclusive, que indica um momento de preocupação ou simples busca por soluções).

Ao me enrolar na toalha, me apoiei na pia e olhei pra mim mesma através do espelho pouco embaçado. Canalha. Abaixei a cabeça e olhei para uma das minhas pulseiras (eram 16, nunca padronizadas). O lápis de olho borrado e o batom que à essa altura não pertencia mais a meus lábios me diziam repetidamente que eu nunca deveria ter feito.

A porta que dava pro quarto estava só escorada. Pela fresta dava pra ver que foi real. Todas aquelas peças de roupa espalhadas pelo chão me traziam nojo de mim mesma.

Abro a porta e lá está ele ainda na cama. Deitado de bruços e ainda coberto parecia exaurido de tanto dúvidas atormentarem-lhe. Não dormia, mas tentava inutilmente.

-- Você não vai conseguir dormir agora. -- falei escorada no portal.

Ele então se levantou e sentou na cama, em sinal de concordância, talvez. Mais um instante e me dirigiu a expressão que eu já esperava, me questionando: e agora?

Olhei no relógio (no dia seguinte haveria aula) e me voltei a ele novamente. Disse pra ir embora. Ele entendeu.

Ele estava na minha cama. Era pequena, mas não nos limitou de absolutamente nada. Nenhum celular tocou, nem a campainha. Nada do que deveria nos impedir o fez. Nem ela. Eu não saberia como encará-la dali pra frente; o que dizer, o que pensar... Nada ia fazer o tempo voltar e impedir-nos, pois na hora quisemos.

Tudo o que eu não queria era que nos esbarrássemos no campus, o que era praticamente impossível. Tanto que aconteceu. Ela me falou alguma coisa, não reagi. Estava muito ocupada tentando decifrar as reações dele.

No final, só o que já era me restou: Ela, minha melhor amiga. Ele, o namorado dela.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vamos estudar ética?

E, em 2045, num museu: Esta é uma foto tirada de um programa de TV, uma novela, há aproximadamente 30 anos atrás. Vocês, crianças, já devem ter aprendido isso nas aulas de história, mas esta aqui é a razão da silenciosa terceira guerra mundial, que começou no Brasil e foi estabelecida em um site de relacionamentos, que seus pais devem conhecer, chamado Facebook. De um lado os conservadores, lutando em favor da família e seus valores morais, do outro, jovens com mentes revolucionárias que acreditavam na igualdade de direitos entre todo e qualquer ser humano, o que podemos chamar de ética. Os conservadores, embebidos de um carácter incorruptível, imaculados e vivendo suas vidas em busca da perfeição sobre-humana, diziam que uma cena assim não poderia ser exibida em programações abertas da televisão, já que seria absurdamente influenciável às crianças, como vocês, corrompendo suas mentes puras para um ato de tal barbárie, que hoje entendemos como uma demonstração de afeto simples entr...

Repouso da Alma

Quero que nos olhemos nos olhos e que sua alma tome banho na minha, como quem toma banho de cachoeira, mergulha e não tira a água do cabelo, mas deixa ela se escorrer pela pele com afeto. Quero sentir nossos suspiros brandos com a cabeça encostada no peito uma da outra quando o dia pesar nas pálpebras. Quero pintar nosso quarto de diferentes cores 36 vezes, e mudar os móveis de lugar outras 42. Quero podar nossas plantas e às vezes não, deixá-as crescer naturalmente, sem aperreio, com seus verdes e borboletas. Quero receber seu aconchego ao chegar à porta, com mochila nas costas e pés cansados, sorrindo amor. Quero me apaixonar por você dia sim outro também.

Poema Vertical - Forró de Perder

Só de pensar no meu amor nos braços de outro forró nas rimas de outra canção... Eu sou de quem sou Eu sou de quem Seu Mas o meu amor não é tão só meu Não tá mais tão meu não é mais pra eu Nem posso pedir Não mais "por favor". Só de pensar no meu amor o meu bem querer em outro sabor em outro calor por entre outras mãos cheirando outro alguém... Parece que sei que sabe que sou de um jeito tão tua que a mãe praguejou, que o galo cantou A ficha caiu. O céu desabou, me fugiu o chão, caí em fadiga, me faltou a voz Parece que Desce Que foi Que padece Carece de tempo Se mexe que é dor. Parece que chuva Imita um trovão Deságua a menina Enfim aceitou. Se acalma menina pare de chover aceita essa ideia louca de não ter. Eu sei que é difícil mas logo esse leite que derrama dô vai ser tudo em vão Que logo o amor vai achar outro peito e deitar bem direito e se esquecer de tu Acorda menina sacode essa água esconde a tristeza ...