Quero que nos olhemos nos olhos e que sua alma tome banho na minha, como quem toma banho de cachoeira, mergulha e não tira a água do cabelo, mas deixa ela se escorrer pela pele com afeto. Quero sentir nossos suspiros brandos com a cabeça encostada no peito uma da outra quando o dia pesar nas pálpebras. Quero pintar nosso quarto de diferentes cores 36 vezes, e mudar os móveis de lugar outras 42. Quero podar nossas plantas e às vezes não, deixá-as crescer naturalmente, sem aperreio, com seus verdes e borboletas. Quero receber seu aconchego ao chegar à porta, com mochila nas costas e pés cansados, sorrindo amor. Quero me apaixonar por você dia sim outro também.
O mais difícil, na verdade, é dormir consigo mesma todos os dias. Era insuportável isso de pensar. Ainda estava drogada, mesmo depois de tanto tempo. No começo o efeito é bom, mas tem momentos em que ela faz tudo doer. Faz a gente se doer, como Macabéa. E pra droga não tem remédio, cê sabe. Nem aspirina. Ela se sentiu linda de manhã. De tarde recebeu elogio do rapaz da rua. (História engraçada. Ele ia lhe pedir dinheiro no sinal, viu a mochila no banco do passageiro e falou sem graça: eu não vou te pedir dinheiro não, acho que você não vai ter pra me dar, que é estudante. Mas eu vim mesmo foi pra falar que esse cabelo é lindo. - sorriram, ela e depois ele - e continuou dizendo que tava mais lindo agora porque tinha o sorriso pra combinar. Se perdeu gaguejando outros elogios, deu um passo pra trás, olhou e disse levantando as mãos em pose de cineasta: queria ter uma câmera bem aqui - com aquele delicioso sotaque nordestino. A moça agradeceu e seguiu sorrindo.) De noite chorou no