O mais difícil, na verdade, é dormir consigo mesma todos os dias. Era insuportável isso de pensar.
Ainda estava drogada, mesmo depois de tanto tempo. No começo o efeito é bom, mas tem momentos em que ela faz tudo doer. Faz a gente se doer, como Macabéa. E pra droga não tem remédio, cê sabe. Nem aspirina.
Ela se sentiu linda de manhã. De tarde recebeu elogio do rapaz da rua. (História engraçada. Ele ia lhe pedir dinheiro no sinal, viu a mochila no banco do passageiro e falou sem graça: eu não vou te pedir dinheiro não, acho que você não vai ter pra me dar, que é estudante. Mas eu vim mesmo foi pra falar que esse cabelo é lindo. - sorriram, ela e depois ele - e continuou dizendo que tava mais lindo agora porque tinha o sorriso pra combinar. Se perdeu gaguejando outros elogios, deu um passo pra trás, olhou e disse levantando as mãos em pose de cineasta: queria ter uma câmera bem aqui - com aquele delicioso sotaque nordestino. A moça agradeceu e seguiu sorrindo.)
De noite chorou no chuveiro. Casa cheia, ninguém pode ver que a dói. Ainda mais naquela casa. Ninguém aceitava aquela droga. Ia ser como da outra vez que descobriram que usava, choro por dias, clima de enterro. A gente não quer isso, né? Pode usar. Eles podiam. Mas aquela droga não é pra todo mundo. Do que sabia ela, afinal?
Antes de chorar no chuveiro, chorou lavando a louça. Porque doía. E dói até hoje, ela pensa. Até hoje. Já devia ter parado. Devia ter parado de usar, mas não é escolha dela. Usa sem saber. Queria parar, mas que porra (!), porque não para?
Não aguentava mais ter que ir dormir consigo mesma toda noite. Saía, olhava pros outros, mas ninguém olhava de volta. Meses atrás cortara o cabelo pra se sentir bonita de novo. Comprou roupas pra chacoalhar a autostima. Mas de noite era ela e ela mesma, e era insuportável. Lembrou de quando tudo que fazia era ler os livros que Pedro Bandeira escreveu. A Droga do Amor.
Ainda estava drogada, mesmo depois de tanto tempo. No começo o efeito é bom, mas tem momentos em que ela faz tudo doer. Faz a gente se doer, como Macabéa. E pra droga não tem remédio, cê sabe. Nem aspirina.
Ela se sentiu linda de manhã. De tarde recebeu elogio do rapaz da rua. (História engraçada. Ele ia lhe pedir dinheiro no sinal, viu a mochila no banco do passageiro e falou sem graça: eu não vou te pedir dinheiro não, acho que você não vai ter pra me dar, que é estudante. Mas eu vim mesmo foi pra falar que esse cabelo é lindo. - sorriram, ela e depois ele - e continuou dizendo que tava mais lindo agora porque tinha o sorriso pra combinar. Se perdeu gaguejando outros elogios, deu um passo pra trás, olhou e disse levantando as mãos em pose de cineasta: queria ter uma câmera bem aqui - com aquele delicioso sotaque nordestino. A moça agradeceu e seguiu sorrindo.)
De noite chorou no chuveiro. Casa cheia, ninguém pode ver que a dói. Ainda mais naquela casa. Ninguém aceitava aquela droga. Ia ser como da outra vez que descobriram que usava, choro por dias, clima de enterro. A gente não quer isso, né? Pode usar. Eles podiam. Mas aquela droga não é pra todo mundo. Do que sabia ela, afinal?
Antes de chorar no chuveiro, chorou lavando a louça. Porque doía. E dói até hoje, ela pensa. Até hoje. Já devia ter parado. Devia ter parado de usar, mas não é escolha dela. Usa sem saber. Queria parar, mas que porra (!), porque não para?
Não aguentava mais ter que ir dormir consigo mesma toda noite. Saía, olhava pros outros, mas ninguém olhava de volta. Meses atrás cortara o cabelo pra se sentir bonita de novo. Comprou roupas pra chacoalhar a autostima. Mas de noite era ela e ela mesma, e era insuportável. Lembrou de quando tudo que fazia era ler os livros que Pedro Bandeira escreveu. A Droga do Amor.
Comentários
Postar um comentário