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Auto Mar

A música dizia uma verdade doída de ouvir. Dessas que sangram os ouvidos, fazem doer os olhos, contraem involuntariamente seus músculos e trazem o mar à tona.
Água salgada, que quebra nas pedras. Mas as pedras não se quebram nunca.
Mar, me ensina?
Me ensina a insistir.
Quero entender essa imensidão dentro de mim.
Esse breu.
Será que em mim só tem vazio?
Vazio e medo?
Nunca senti tanto medo.
Já me levaram pra nadar uma vez, me disseram "confia em mim"
e segundos depois eu entrei em pânico.
Eu estava sozinha no oceano, fingindo boiar pra não assustar os outros em volta.
Nunca mais entrei no mar.
Sabe meu medo?
Dizer: "vem comigo, confia em mim"
E te deixar lá, como eu, em alto mar, cercada de água salgada que nem mata a sede.
De te deixar lá, como eu.
E a água balançava com tanta força, e subia, e me tirava o ar, me empurrava, me batia, me ardia por dentro, me tirava o ar, me doía, me tirava o ar, sem ar
Eu quero pra você a salvação que não me deram,
Mas eu não sei nadar.

Comentários

  1. Chorei.
    Tenho sofrido pelo medo de alguém que, como você, foi abandonado à violência do mar, que deveria ser leve. Não sei se esse sofrimento é pior do que se jogar no oceano confiando em alguém que não pode ajudar.
    Sei que sofreria menos se me fosse dito: "Vem comigo, confiemos um no outro. Não sei nadar e se você não souber também, molhamos só os pés e vamos entrando aos poucos. Vamos aprender juntos?"
    O problema é que as pessoas acham que podem sempre aprender a nadar amanhã ou depois. Até que a falta da água vai se tornando tão sufocante que a gente se afoga na secura que a vida se torna sem ela. E quanto mais longe da água, quanto mais seca a vida, mais difícil é entrar no mar.
    O medo, minha cara, tem o tamanho da coragem.
    A sede que a água do mar mata é outra, é espiritual e você nunca se saciará se não se dispuser a atravessar a areia.
    A propósito, belo título.

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