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Máscara

Ei, licença, posso usar essa sua...
Isso que tá aí no seu rosto, essa...
Como é o nome disso, meu Deus? Ai, faz tanto tempo que eu não uso...
LEMBREI. Me empresta essa simpatia aí. Essa, menina, que você não cansa de usar, e que nunca tira da cara, que faz todo mundo crer que seu mundo é perfeito e cheio de borboletas coloridas voando livremente entre campos gramados impecavelmente verdes.
Me empresta um pouquinho só, me deixa ver o teu mundo como é.
Nós duas sabemos que campos e borboletas não duram mais do que 15 minutos, 20 se tiver sorte.
Me conta teus medos. Você não é indestrutível, você não precisa ser a base de todo mundo.
Vem, eu te empresto meu ombro em troca. Aliás, pode ficar com ele se quiser.
Derrama as lágrimas que tanto ficaram presas durante os anos de uma juventude atípica.
Eu te convido agora pra viver comigo o que você quiser. Te dou meus minutos, minhas horas, meus dias.
Vem, menina, se deixa ser. Eu posso ler pra ti um bom livro, a gente pode ouvir boa música, procurar programas engraçados na TV. A gente pode criticar cinema, falar de Sócrates ou Nietszche, comer batata frita e sorvete.
Tira a máscara e vem ser você. Esse sorriso largo não me convence, nunca me convenceu. Tem que existir alguém de verdade aí dentro.
Não demora. Você precisa disso.
Quando a gente terminar, lembre-se que eu vou estar sempre aqui por você.
E pra você.
E com você.
Mas não me procure, eu só não sei estar. Ou ser. Quem sabe eu só não sou?
É isso. Eu não sou. Continue com isso de simpatia.
Realmente parece funcionar.

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