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À Capela

Somente a batida do seu corpo na parede, do meu corpo no seu, do meu corpo no céu. À capela, minha voz atravessa teu corpo e aparece na tua pele, quente, clara; como se não houvesse fora do quarto. Só haviam quatro paredes, móveis desmaterializados, energia.
Sem luz.
Ter.
Encontrar a paz na tua boca, o desejo nas tuas mãos, a poesia nos teus olhos. O tocar utópico me enlouquece de querer, me enlouquece te querer. Me enlouquece o frio do travesseiro e a falta na minha cama. É ela com quem te traio. A falta me tem e dorme comigo todas as noites. Ela sussurra no meu ouvido, me faz ranger os dentes, ofegar. É ela na minha cama quando o despertador rosna. É ela quem rouba meu sono. Vem tirar ela daqui? Toma seu lugar no meu peito, no meu abraço, no meu lençol. Traz aqui meu sorriso que se perdeu nesses malditos quilômetros que separam o inferno do céu.

O poste pela janela é toda luz. À capela, minha voz embala teus beijos e some em sussurro, gemido. Negros, teus cabelos passeiam suaves. Volta, boca. Minha. Deixa eu descobrir você, cobrir também. Deixa a vingança acontecer, eu enlouquecer você; suspiros.
Cobertor.
Sem ar.
Me tira do chão. Fala de novo aquilo pra mim, aquilo, me chama daquilo. Me deixa mais uma vez sem o que falar. Me deixa sem voz. Me tira o som. Me tira de mim que eu não me aguento mais. Faz isso e eu canto à capela um milênio adiante o que a gente viveu. Não. O que a gente não viveu.

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