E a incrível capacidade das pessoas de se tornarem melhores-amigas-de-infância em 15 minutos de conversa.
Subi as escadas e me escorei em um daqueles apoios de metal do transporte coletivo. Estava tudo escuro lá fora, tudo azul escuro, meio cinza-cor-de-cidade-grande. Acho que a minha cara mostrava o domínio que o tédio teve sobre mim durante aqueles 45 minutos de viagem, em pé. Mas fomos animados eu, minha mochila estampada, uma prima, outro primo e meu irmão voltando do cinema para um falso-churrasco. Eu e minha animação ignorando todo mundo. Todo mundo, menos a conversa do motorista com a senhora quase-simpática. E quer saber? Não ignore as conversas de ônibus. Todo mundo precisa ter um motivo pra rir.
-- Você tem filhos?
-- Três!
-- Sério? Leva isso aqui pra eles... -- estendendo mão com algumas balinhas. -- qual a idade deles?
-- Um tem um e meio, outra tem três e o outro tem oito.
(...)
-- Eu perdi meu neto de 18 anos num acidente de carro.
(...)
-- Meu primo se envolveu com a mulher errada... ela era lésbica, aí a ex-namorada dela (...)
O motorista contou toda a história da ex-namorada-lésbica-assassina e que mandou matar o primo dele. A senhora mostrou com o celular a foto do neto de 18 anos que se envolveu num trágico acidente de carro depois te ter tentado salvar a vida de qualquer-pessoa-errante no meio da estrada.
Depois entrou uma mulher apressada e sem passagem no ônibus. Perguntou pro motorista se ele tinha passagem pra vender, perguntou pra mim, pro meu primo, pra minha prima, pro meu irmão, pro moço anti-social-com-o-fone-de-ouvido do meu lado, pra moça-que-prestava-atenção-demais-nas-conversas-dos-outros, pra senhora-do-neto-que-morreu-no-acidente-de-carro... Ela estava acompanhada de uma criança pequena, filha eu acho. A menina era tão calada que não parecia criança. Devia ter uns cinco, seis anos. Parecia ter 25, 26 anos, de tão retraída que parecia ser.
Logo logo desceu a moça-mãe-apressada do ônibus. Depois eu desci correndo, comprei minha passagem e voltei pro mesmo ônibus-das-mil-crônicas. Não demorou, também, e desci. Eu, os primos todos e o meu irmão. Faltava um ônibus pra chegar em casa.
-- Gente, eu não quero mais pegar ônibus. Vou pegar o celular e ligar pro meu pai buscar a gente.
Assim se sucedeu. Nunca mais toquei no assunto da ex-namorada-lésbica-assassina-do-primo-do-motorista, ou da avó-orgulhosa-do-neto-que-morreu-num-acidente-de-carro. E nunca mais vou falar de histórias de ônibus também. Quer dizer, isso até entrar em outro ônibus de crônicas ambulantes.
Subi as escadas e me escorei em um daqueles apoios de metal do transporte coletivo. Estava tudo escuro lá fora, tudo azul escuro, meio cinza-cor-de-cidade-grande. Acho que a minha cara mostrava o domínio que o tédio teve sobre mim durante aqueles 45 minutos de viagem, em pé. Mas fomos animados eu, minha mochila estampada, uma prima, outro primo e meu irmão voltando do cinema para um falso-churrasco. Eu e minha animação ignorando todo mundo. Todo mundo, menos a conversa do motorista com a senhora quase-simpática. E quer saber? Não ignore as conversas de ônibus. Todo mundo precisa ter um motivo pra rir.
-- Você tem filhos?
-- Três!
-- Sério? Leva isso aqui pra eles... -- estendendo mão com algumas balinhas. -- qual a idade deles?
-- Um tem um e meio, outra tem três e o outro tem oito.
(...)
-- Eu perdi meu neto de 18 anos num acidente de carro.
(...)
-- Meu primo se envolveu com a mulher errada... ela era lésbica, aí a ex-namorada dela (...)
O motorista contou toda a história da ex-namorada-lésbica-assassina e que mandou matar o primo dele. A senhora mostrou com o celular a foto do neto de 18 anos que se envolveu num trágico acidente de carro depois te ter tentado salvar a vida de qualquer-pessoa-errante no meio da estrada.
Depois entrou uma mulher apressada e sem passagem no ônibus. Perguntou pro motorista se ele tinha passagem pra vender, perguntou pra mim, pro meu primo, pra minha prima, pro meu irmão, pro moço anti-social-com-o-fone-de-ouvido do meu lado, pra moça-que-prestava-atenção-demais-nas-conversas-dos-outros, pra senhora-do-neto-que-morreu-no-acidente-de-carro... Ela estava acompanhada de uma criança pequena, filha eu acho. A menina era tão calada que não parecia criança. Devia ter uns cinco, seis anos. Parecia ter 25, 26 anos, de tão retraída que parecia ser.
Logo logo desceu a moça-mãe-apressada do ônibus. Depois eu desci correndo, comprei minha passagem e voltei pro mesmo ônibus-das-mil-crônicas. Não demorou, também, e desci. Eu, os primos todos e o meu irmão. Faltava um ônibus pra chegar em casa.
-- Gente, eu não quero mais pegar ônibus. Vou pegar o celular e ligar pro meu pai buscar a gente.
Assim se sucedeu. Nunca mais toquei no assunto da ex-namorada-lésbica-assassina-do-primo-do-motorista, ou da avó-orgulhosa-do-neto-que-morreu-num-acidente-de-carro. E nunca mais vou falar de histórias de ônibus também. Quer dizer, isso até entrar em outro ônibus de crônicas ambulantes.
Também estava pensando em conversas de ônibus esses dias, enquanto estava num deles. Adoro esses papos aleatórios que a gente escuta :). Já escutei cada coisa...
ResponderExcluiramei a cronica.. eu tb ja ouvi e vi cada coisa...kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir~.~ tava no ônibus e já pensando em escrever... e Dani, o Éber Júnior é o tipo que postaria: "eu era o primo, EEU" ... e aconteceu mesmo, hein. eu, ele a Arielle e o Juan. :x prontofalei.
ResponderExcluir