Ela acorda a cada dia num compasso diferente. De vez em quando é um compasso simples, um quatro por quatro marcado, que só acompanha as seis cordas tão conhecidas. Esse é o dia que tudo tá tranqüilo, tudo tem o jeito Chico Buarque de falar. Tudo tem um “tudo bem” no final da frase. No dia seguinte ela aparece meio rock. Acorda com aquele fogo de querer fazer tudo agora, tudo, tudo. E pega pra fazer exercício de física, e ficar quieta não dá, e não tá com saco pra mimimi (...). Acorda quando o sol raia de novo com o pop romântico batido; a letra que te deixa vendo tudo de um jeito diferente. Enxerga flores brancas em todas as roupas e coraçõezinhos saindo das bocas alheias. Pra nas próximas vinte e quatro horas acordar um pouco Elvis, meio Marlyn. É o dia que todos os olhares são mais do que acasos, todos são profundos, todos são mal-intencionados; todos são de uma ambiguidade única, personalizada. Pra levantar Cazuza no dia que segue. Revoltada com o mundo e cantando pra todo mundo ouvir que tá tudo errado, que devia ser diferente. Ela vira um protesto ambulante; grita, fecha a cara, aponta o dedo, fala que tá bagunçado, cruza os braços, vira de costas, rói as unhas, bate na mesa e é o que quer ser. E até comercial de refrigerante ela já acordou: sendo a mesma de todas as outras vezes que acordou ‘comercial de refrigerante’. Aparece na hora que a gente menos quer pra no final todo mundo saber a música, rir, cantar junto... Isso tudo pra ninguém saber o próximo 00h do relógio, que vai a definir por mais algumas horas, até ela voltar a ser um desses, e deixar de ser, e badernar a sequência toda, e te confundir, e mexer com o seu conceito de música, dia, humor; e perder o rumo e voltar pra ele no dia seguinte, ou dois dias depois, e não ser, e virar, e querer, e não deixar, e ... (...) (...) (...)
Esse texto eu dedico a uma recente conhecida que em pouco tempo se tornou grande amiga. O texto está incompleto, mas o principal esse trecho conseguiu passar.
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